quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A programação da TV brasileira

Neuber Fischer

A TV aberta ocupa papel de destaque no cotidiano da sociedade brasileira, é o veiculo mais consumido pelo público. Mas ela vem desempenhando seu papel como meio de informação, entretenimento e prestação de serviço? Acredito que não! E vou dizer o porquê.

Diariamente ligamos o televisor para saber o que está acontecendo no mundo, para nos divertirmos, passar o tempo. Mas de um tempo pra cá tem sido um martírio acompanhar os programas exibidos na TV.

De segunda a sexta a programação pouco varia de um canal para o outro, Globo, SBT, Record, Band e Rede TV, as cinco redes do país, exibem uma programação quase idêntica, não fossem os artistas e jornalistas que aparecem na telinha. E olha que as vezes até eles são parecidos, cabelo, roupa, modo de falar, um inspirado no outro.

Logo no começo da manhã, todas as redes exibem telejornais, que abordam as mesmas pautas, não adianta zapear, você não vai encontrar nada diferente. Mais tarde, mas ainda de manhã, ou se vê desenhos, na maioria japoneses, que são o que há de pior em termos educativos, é luta e poder para todo lado, e as crianças pobres coitadas ficam na ilusão de que um dia serão daquele jeito. E a violência aumenta a cada dia, talvez até não seja uma ilusão, apenas trocam os raios laser que saem das mãos por armas de fogo. Ou assistimos programas femininos, que mais se parecem com games, porque o que mais se faz ali é dar dinheiro em jogos via telefone. Informação para mulher, ah! Isso é raridade.

Na hora do almoço, ô hora ruim! Se não ver esporte, com aquelas mesas redondas intermináveis, que discutem o que não se discute, futebol, ver o quê? Seriados que já passaram e se repetem há anos, telejornal que dá receita e roteiro de viagem, ta feia a coisa!

À tarde, ai é uma coisa de loco, é sem dúvida o pior horário. O que podemos assistir: Seriados e filmes reprisados por centenas de vezes, novelas repetidas e baixaria. No SBT é o Casos de Família com Cristina Rocha, ex Aqui Agora, sabe fazer barraco como poucos, orientar as famílias, o que seria o mínimo para o programa, nunca vi, exploram as brigas e casos esdrúxulos. Depois vem o Ratinho, esse já é conhecido por devassar casos que rendem polêmica, assistencialismo e prêmios são com ele mesmo. Na Band, Márcia e suas loucuras, “Mexeu com você, Mexeu comigo” que bobagem! Na Rede TV, a jornalista Sonia Abrão vive às custas de artistas e programas de outras emissoras, fala e fala, e como ela fala, até que o assunto se esgote, BBB é um deles, vez ou outra ela consegue a façanha de dar uma de jornalista investigativa e policial e acompanha um caso, que via de regra envolve crime, até de negociadora de seqüestro ele já se passou. Na Record o sem graça e não menos polêmico Geraldo Brasil, que até agora não definiu sua linha de programa, mas é um dos piores.

Chega à noite, quem pensava que teríamos boas atrações, enganou-se. Começo pela Band, Datena e o caos urbano, ele torce por uma enchente, em dias assim a audiência do programa vai as alturas, seria bom se ele usasse o espaço para prestar serviço e informar, mas isso não ocorre. Depois vem o telejornal, até não é ruim, mas a emissora dos Saad sofre por não possuir muitos recursos, então fica limitada. Mais tarde Humor de péssima qualidade com uma Escolinha que tenta imitar a do Chico Anísio, mas fica longe, e para encerrar vem Igreja e o sermão do Missionário R.R. Soares, ninguém merece!

Na Rede TV é fofoca, com o TV Fama, que abusa e invade a vida dos artistas. Mais tarde um jornalzinho furreca, sem falar nos cenários virtuais que deixam o telespectador zonzo e apresentadores perdidos. E o símbolo do que é ruim, Luciana Gimenez, essa dispensa comentários.

Na emissora do bispo Macedo, jornalismo, até que bom, mas muito tendencioso. Novelas, mesmo com todo investimento e tecnologia, chatas e mal feitas, com atores de segundo escalão. Pra encerrar a noite o canal exibe uma programação variada, com realities e séries de sucesso que costumam ser bons.

Na TV de Silvio Santos, ai meu Deus! Séries americanas, jornalismo, o mais livre, diga–se de passagem, mas que recebe pouco investimento e uma novela terrível de ruim em todos os sentidos. O que salva é a linha de shows às 8 horas da noite, cada dia é um programa diferente e bom, cumprem a função de entreter, e às 11 horas da noite com programas tradicionais e filmes, embora hoje em dia tem-se repetido demais os filmes.

Na emissora dos Marinho, novelas, que já foram boas, hoje pela falta de criatividade, os autores só pensam em remakes, não conseguem criar, refazem o que já foi feito. Com algumas exceções, claro, mas novela é novela, sempre a mesma coisa, começamos a assistir e já sabemos o final. O Jornal Nacional, ainda é o melhor do país pela estrutura que a Globo possui, mas peca pela linha editorial, que sabemos bem qual é, a Globo pende para o lado que está mais forte, sempre.

De madrugada, quase ninguém assisti, mas deveriam, é nesse horário que estão os programas, séries e filmes melhores, por que será? Talvez não queiram que o povo tenha acesso a produtos de qualidade, e se tornem culturalmente melhores.

Chega o final de semana, sábado é um dia perdido, em meio a desenhos, Xuxa, séries repetidas, filmes velhos, calouros e auditório, vemos o dia passar sem nada que preste. Uma ressalva ao Caldeirão do Huck, que não é tão ruim assim, mas copia tudo de fora, não cria nada.

Domingo dia de almoço e TV em família, o sacrifício! Futebol, se você torce para o Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, está bem servido, quase todo domingo são os jogos destes times que são exibidos, o resto tem que se contentar com as raríssimas vezes em que a transmissão ocorre. Vemos uma sucessão de programas todos literalmente idênticos, muda-se o apresentador, o cenário nem tanto, mas os quadros, esses são cópias descaradas, reparem: Auto Esporte lembra o Vrum, Esporte Fantástico é cópia do Esporte Espetacular, Programa do Gugu é idêntico ao Domingo Legal, Eliana é o espelho do Tudo é Possível, Domingo Espetacular é gêmeo do Fantástico, Silvio Santos é parecido com Faustão. Os cardápios são muitos, os pratos variados, mas os ingredientes são sempre os mesmos, Eu estou enjoado. Você não?

Qual seria o problema, público passivo, falta de criatividade, ou acomodação? Seguindo a risca os dizeres de Chacrinha, “Na TV nada se cria, tudo se copia”. É uma pena, o brasileiro merece mais atenção das televisões, são eles que dão a audiência e conseqüentemente o faturamento das empresas, o mínimo que deveriam fazer é cumprir com a obrigação de oferecer conteúdo de qualidade ao telespectador. O público também tem que fazer sua parte e mudar de canal para procurar outros conteúdos, só assim acaba o monopólio e todas as TVs terão condições e recursos suficientes para produzir boas atrações e atender ao apelo da sociedade. A esperança é a última que morre, quem sabe não melhora daqui algum tempo, vamos aguardar, mais não de forma passiva, é preciso agir e exigir nossos direitos de consumidor. Queremos mais que qualidade em definição e imagem, queremos conteúdo de qualidade.


Artigo produzido em 2009 para crédito à disciplina Jornalismo Impresso A da Profª Vânia dos Santos Mesquita.

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